Em 2019 foi detetada uma macroalga exótica castanha, perto do maior porto comercial da llha de São Miguel, do arquipélago dos Açores, da espécie Rugulopteryx okamurae. Rapidamente se espalhou às águas europeias e ao Estreito de Gibraltar com um elevado caráter invasor.
Em Cascais, o primeiro bloom de algas foi registado em 2024 e localizado entre a Praia das Moitas e a Praia da Rainha.
Qual a origem desta alga?
A macroalga Rugulopteryx okamurae é uma alga nativa das águas do nordeste do Oceano Pacifico, em particular das Filipinas, China, Japão e Coreia.
Esta espécie foi reportada pela primeira vez, fora do seu habitat natural, no Mar Mediterrâneo em 2002, perto de um pequeno porto na Lagoa de Thau (França) que é conhecido como um ponto crítico de introdução de espécies marinhas na Europa. Os investigadores acreditam que a alga foi introduzida durante a importacão da ostra japonesa Crassostrea gigas.
Trata-se uma alga "silenciosa". Porquê?
A fase inicial de colonização de R. okamurae nos Açores terá passado despercebida, dadas as semelhanças morfológicas que possui com outras algas da ordem Dictyotales, nativas do nosso país.
Como foi possível um avanço tão rápido?
R. okamurae é uma alga de caráter invasor, de rápida proliferação e crescimento, com uma estratégia reprodutiva extremamente eficiente.
Tem uma enorme eficácia em ocupar os fundos marinhos rochosos, aproximadamente até aos 40m de profundidade, sendo que entre os 10 e os 20m, apresenta uma taxa de ocupacão de 80 a 90% da superfície do fundo marinho, substituindo infelizmente a maioria das comunidades que vivem no fundo do mar.
Qual o seu impacto?
Atualmente esta alga não passa despercebida nas praias e já causou algumas consequências, tais como:
- Redução da biodiversldade nas zonas onde se verifica a acumulação da macroalga
- lmpacto sobre os ecossistemas
- lmplicações sobre o turismo e a saúde pública, porque a sua presença é geralmente acompanhada por um odor intenso
- Efeitos negativos sobre a atividade piscatória, uma vez que a alga consegue entrelaçar-se nas redes de pesca, cordas e anzóis, reduzindo a eficiência do material
Quais os potenciais usos de Rugulopteryx okamurae?
Não estão totalmente conhecidas as possíveis aplicações de R. okamurae, no entanto, alguns dos potenciais usos da alga podem ser os seguintes:
- Produção de biogás para fins energéticos através de decomposição anaeróbica (processo biológico que ocorre na ausência de oxigénio e onde os microorganismos metabolizam a matéria orgânica dando origem a biogás de alto poder calorífico, como produto final)
- Compostagem. O composto possibilita a produção de biofertilizante
- Desenvolvimento de bioplásticos
- Aplicações farmacológicas e biomédicas: certos compostos de R. okamurae apresentam potencial anti-inflamatório, antifúgico e antimicrobiano, assim como a habilidade de inibir a-glucosidase, que pode ser potencialmente útil no tratamento de doenças, como diabetes e obesidade. Neste contexto, R. okamurae trata-se de uma alga que pode ter um uso promissor para a indústria biomédica e farmacêutica, e até alimentar
- Outros potenciais usos: compostos de R. okamurae nas indústrias de cosméticos e têxteis
Esta alga compromete a qualidade das águas balneares?
Após surgir em Cascais, no verão de 2024, foram realizadas análises microbiológicas, na sua superfície e interior da alga. Estas análises efetuadas com o apoio do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e Instituto Ricardo Jorge pretendiam avaliar se existia uma relação entre a presença de algas nas alterações da qualidade das águas balneares. Os resultados não revelaram qualquer relação direta. Desde janeiro de 2025, Cascais tem em desenvolvimento uma campanha de monitorização, em terra e no mar, para determinar quinzenalmente a ocorrência de R. okamurae, em toda a costa Sul do concelho, entre a Costa da Guia e a Parede.
Acompanhe a Monitorização da Qualidade da Água nas praias e os relatórios disponíveis na página de cada praia AQUI
Saiba tudo sobre a Época Balnear em Cascais AQUI.
E o que Cascais está mais a fazer?
Desde junho de 2024 foi estabelecida uma parceria com a empresa startup OffKelp para analisar a viabilidade da utilização de R. okamurae como bioestimulante para culturas agrícolas para que futuramente possa ser aplicado nas Terras de Cascais (hortas e vinhas).
Atualmente está a decorrer um projeto piloto - o projeto ReAlga - em consórcio com a Câmara Municipal de Cascais, OffKelp, Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa e a Vivid farms para a valorização da biomassa da alga.
Mas como se procede a recolha desta espécie invasora nas praias?
A recolha desta espécie é efetuada no areal recorrendo a meios mecânicos, sempre que o acesso e o horário da maré baixa o permita. Geralmente é efetuada durante a madrugada, antes da chegada dos banhistas para garantir a segurança, quer no areal, quer no paredão. Esta limpeza tem uma frequência diária devido ao volume depositado nos areais, em cada período de maré. Em 2024, o volume recolhido desta alga invasora foi significativo. Em três praias do município foram recolhidas cerca de 2.000 toneladas deste resíduo biológico nos areais.
Desde junho de 2025, estas as algas estão ainda a ser recolhidas manualmente pelos voluntários do programa de verão Maré Viva.
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Pode contribuir para o registo de avistamentos da alga Rugulopteryx okamurae, para tal, basta seguir os seguintes passos:
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