Os espaços verdes, os jardins, os relvados e os prados
Será que usamos nomes diferentes para “coisas” iguais? Há tantos conceitos em voga, palavras que aparecem todos os dias em contextos diferentes, por exemplo: “Sustentável”, parece que se aplica a tudo. Espaços verdes são o mesmo que jardins? São sustentáveis?
O senso comum diz-nos que um jardim é um local agradável, onde podemos estar em contacto com a Natureza, é verde, tem árvores e flores. É diferente de um terreno abandonado porque é cuidado. Ali, a natureza foi domesticada segundo os nossos gostos e necessidades – criámos um espaço mais ordenado, que se distancia mais ou menos dos padrões habituais da Natureza.
Em comparação, a paisagem seminatural que nos rodeia pode ser bela ou não, pode ser só “mato e ervas”, pode ser uma floresta ou um prado.
Quando pensamos no verde dos jardins, vem-nos logo à cabeça um relvado. Gostamos muito de relvados, mas eles servem para quê? Vamos pensar: para correr, para pisar, para nos sentarmos… Mas no nosso clima, de tipo mediterrânico, com uma estação seca e quente, os relvados não são naturais. Importámo-los de países onde chove com regularidade ao longo ano. Aqui precisamos de os regar para os manter verdes. Regamos com água, esse bem precioso e cada vez mais escasso. Atualmente, existem 245 607 m² de prado de sequeiro em Cascais, o que permite poupar cerca de 309 465 m³ de água por ano.
Menos água, mais biodiversidade
Um dos desafios que as alterações climáticas nos colocam é a escassez de água. Os modelos de previsão indicam que o nosso clima vai mudar. Vamos ter situações mais extremas, mais calor, chuvas torrenciais, menos chuva no inverno, mais seca.
Manter um espaço verde num futuro próximo significa lidar com a escassez de água e encontrar formas de a poupar. Onde gastamos mais água? Na rega dos relvados. Os relvados são feitos com plantas da família das gramíneas, que são intensamente adubadas, cortadas e regadas.
Por cada metro quadrado de relva gastamos mais de um garrafão de água por dia na rega.
Vamos voltar à questão: para que servem os relvados? Servem de tapete, para pisarmos, para corrermos, para estarmos.
Será que os relvados que temos nos espaços verdes cumprem estes propósitos?
Aqui aparece um outro conceito: espaço verde. Não é exatamente o mesmo que um jardim. Temos muitos espaços verdes que apenas servem para serem vistos, servem de enquadramento ou de cenário. Ao contrário dos jardins que são locais onde podemos estar, e onde faz sentido investir nos relvados. Nos restantes espaços verdes, não é importante existirem relvados, aí podemos substituí-los por prados sem rega.
Se reduzirmos as áreas regadas vamos poupar água. Assim, propomo-nos transformar alguns relvados em prados de sequeiro (sem rega). Durante a época de chuvas parecem relvados e são verdes. Na estação seca serão amarelados. Mas não “são só ervas”, não são espaços sujos nem são espaços abandonados. São espaços verdes mais parecidos com as nossas paisagens. São espaços com mais biodiversidade. Os prados são formados por misturas de plantas, incluindo plantas amigas dos polinizadores. Atualmente, os polinizadores – onde se incluem as abelhas – estão sob ameaça devido à agricultura intensiva que destrói os seus habitats e os envenena com pesticidas. Os polinizadores são essenciais na produção de alimentos e nos relvados não há polinizadores.
É necessário mudar a gestão dos espaços verdes, assumir responsabilidade pelos meios despendidos na sua manutenção, contribuir para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas e contrariar a redução da biodiversidade.
Por estes motivos, Cascais vai converter alguns relvados em prados de sequeiro que, durante o verão, terão a sua cor natural – o amarelo. Estes espaços não “são só ervas”, são prados. E são mais sustentáveis.