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História da Quinta

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História da Quinta

A presença humana na Quinta do Pisão remonta à Pré-História, com vestígios na gruta de Porto Covo referenciados como pertencentes ao período Neolítico e Calcolítico e Idade do Bronze e Idade do Ferro, isto é, há 4500 a 5000 anos. A gruta terá sido utilizada como necrópole, tendo-se identificado durante as escavações arqueológicas realizadas em 1879 por Carlos Ribeiro, arqueólogo da Comissão dos Trabalhos Geológicos de Portugal, ossadas humanas entre outros artefactos e utensílios.

A Quinta do Pisão de Cima, anteriormente designada por Quinta dos Perrinhos ou Pilrinhos tinha uma área de 6,90 ha. Existem referências que indicam que esta Quinta seria propriedade do Convento de Santa Mónica de Lisboa, tendo sido adquirida em 1774 pelo proprietário da “Real Fábrica de Lanifícios de Cascaes” (Paulo Guimarães) para instalar um pisão. A azenha e estruturas de condução da água existentes terão sido adaptadas para aumentar a capacidade de produção da fábrica sediada na vila.

A Quinta do Copeiro com 0,12 ha de área também conhecida por Pisão Velho, possuía já um pisão utilizado para pisoar os panos tecidos pelas saloias, tendo registo de atividade desde 1758, anterior à “Real Fábrica de Lanifícios de Cascais”. Foi arrendada em 1777 com o mesmo propósito que a Quinta dos Perrinhos, por esta última não responder às necessidades, e terá funcionado até 1816 (ano de encerramento da fábrica), sendo então propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Cascais que a arrendava.

Os três pisões destas duas propriedades funcionaram em pleno no período áureo da Real Fábrica de Lanifícios de Cascaes entre 1773 e 1806. Com o encerramento da fábrica perde-se o rasto às quintas, até que uns registos de 1938 referem que as respetivas Quintas do Pisão de Cima e do Copeiro foram doadas ao Estado pela “Comissão Executiva do Sanatório para Sargentos Tuberculosos do Exército de Terra e Mar” a fim de constituírem parte integrante do que seria o “Albergue de Mendicidade de Lisboa-Mitra”.

A Quinta de Porto Covo constitui uma unidade agrícola de tradição medieval, da qual existem registos de ter sido propriedade do Convento S. Jerónimo na Penha Longa. Morgadio com uma área de 299 ha, possuía várias estruturas como azenhas e fornos de cal para além de terra arável, compreendendo um conjunto de edificado que remonta a 1527. A sua toponímia estará certamente associada ao facto do casario se ter situado num vale encaixado, numa “cova”, para além de ter sido um ponto de passagem obrigatório para aqueles que se dirigiam, na época, à vila de Sintra vindos de Cascais.

O percurso ao longo da ribeira das Vinhas, por apresentar menor declive, seria na altura o mais fácil e direto, pelo que terá sido percorrido a pé ou com recurso a tração animal.

Porto Covo tornou-se um importante ponto de passagem que estabelecia também ligação com as povoações vizinhas como Malveira, Murches, Penha Longa e Alcabideche. No Séc. XVIII foi instituído um vínculo à capela de invocação à Nossa Senhora da Conceição pelo seu co-herdeiro, o padre João Luís Mendes, do qual consta na mesma uma lápide datada de 1760 (Cardoso et al., 2009). A instituição da capela e do morgado visou assegurar a integridade da propriedade e a manutenção da mesma na família, evitando a partilha pelos herdeiros, sendo que esta passaria por obrigação e na íntegra para o filho primogénito.

As construções existentes seriam de arquitetura saloia, simples e depurada, com dois pisos que serviam de habitação no piso superior e de arrumos no piso térreo. Terão sido mandadas demolir pelos serviços da Mitra, exceto a capela e a azenha já sem o seu engenho.

Somente na revolução liberal de 1820 são extintos os morgadios, tendo a Quinta sido vendida e mudado sucessivamente de proprietários. Os únicos registos conhecidos referem que nos finais do Séc. XIX estava na posse da família Freitas. Depois da implantação da República, o seu último proprietário terá sido António Augusto Alves que a hipotecou à Companhia Geral de Crédito (Ministério da Fazendo Pública, 1942).

Finalmente já no séc. XX, a propriedade acabou por ir a asta pública e o município de Cascais manifestou interesse em adquiri-la. Contudo, em 1941, por direito de preferência, esta foi arrematada pelo Estado em detrimento do município para desenvolvimento e alargamento da Mitra. A Câmara Municipal de Cascais (CMC) ficou com o direito à exploração das fontes e minas de água existentes, evidenciando-se a preocupação da autarquia com o abastecimento público (Ministério da Fazendo Pública, 1942).

Em 1942, com o conjunto das três Quintas, é criada a “Colónia Agrícola do Pisão”, anexa à Mitra e só em 1949 foi edificado um pavilhão isolado para os doentes mentais denominado “Asilo de Dementes”. Nos anos 50 viviam e trabalhavam neste território cerca de 500 “indigentes”, entre prisioneiros da colónia penal, doentes mentais, tuberculosos e todos os que eram apanhados a mendigar pela capital, que permaneciam guardados por elementos da P.S.P. de Lisboa. O trabalho no campo e atividade agrícola seria intenso, existindo em 1940 registos de produções de 397 Kg de cevada santa, 651 Kg de fava, 2115 molho de feno, 12,5 Kg de mel, 615 Kg de milho e 1809 Kg de trigo rijo (Cardoso et al., 2009).

Os antigos albergues de mendicidade passaram, a partir de 1976, para a esfera da ação social. Em 1985 a Santa Casa da Misericórdia de Cascais assume a gestão da Mitra reconvertida em “Centro de Apoio Social do Pisão”, com uma estrutura agrícola funcional, onde os utentes desenvolviam toda a atividade agropecuária para sustento do Centro. Neste mesmo começou-se a receber pacientes do sexo feminino. No ano de 1989, os registos referem que a Quinta do Pisão teria cerca de 300 ha em exploração com uma produção de 16 toneladas de trigo por ano, para além da exploração da componente florestal com pinho e eucalipto. Teria ainda uma componente pecuária com 30 vacas leiteiras, 230 ovelhas, 5 porcos e 600 galinhas (Cardoso et al., 2009). Com o crescimento da instituição e a necessidade de profissionalizar e cumprir com regras e legislação, o conceito de sustentabilidade do Centro que envolvia um abastecimento próprio de víveres frescos provenientes da gestão agropecuária foi deixando de ser possível, tendo a atividade agropecuária sido cessada.

No que concerne à área do Pisão de Baixo, esta consiste essencialmente numa plataforma rochosa calcária com dobras e fraturas do Cretáceo. Apresenta no seu limite sul o vale travesso, denominado deste modo por estar orientado no sentido este-oeste, que inicia na confluência da ribeira do Pisão com a ribeira da Penha Longa, dando lugar à ribeira do Marmeleiro com uma orografia particular. Contígua à ribeira encontra-se a Quinta do Pisão de Baixo, da qual não existem registos anteriores a 1746, e que pertenceu a Manual do Vale (Cardoso et al., 2009). Esta propriedade, que atualmente se encontra dissociada da azenha e forno de cal (de grande valor e interesse), será muito provavelmente a única azenha que ainda detém os engenhos e pedras mós em relativo bom estado de conservação.

Em 2007, esta Quinta de 22 ha foi adquirida pela CMC num processo de permuta com o proprietário. Mais a sul junto à ribeira, o Casal da Cartaxa, existiu uma azenha sendo ainda visíveis as estruturas de condução de água, bem como as condutas de descarga até à ribeira. O vale encaixado mais protegido e húmido representa um refúgio para a flora, em particular carvalhos e freixos que assumem um porte significativo.

 

 

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