CONTACTOS
Fale connosco
800 203 186
Em rede

Está aqui

Opinião de Paulo Lemos, Unidade de produtos e consumo sustentáveis da Direção de Ambiente, Comissão Europeia

Cascais pode ser considerado, pela qualidade e pelo número de iniciativas em curso ou planeadas, como um exemplo a seguir na Economia Circular
O papel dos municípios na transição para a Economia Circular

A transição para a economia circular é a forma mais adequada de dar resposta quer aos desafios ambientais quer aos desafios económicos que enfrentamos.

O conceito de economia circular tem merecido uma crescente atenção por parte de Governos, empresas e da sociedade em geral tendo vários países (incluindo Portugal) adotado estratégias de transição.

O modelo circular pretende acabar com ineficiências, ao longo ciclo de vida do produto desde a extração das matérias-primas até à sua utilização, pelo consumidor final, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, minimizando ou erradicando a criação de resíduos e prolongando, ao máximo, a vida útil e o valor do produto.

Dado que as cidades são grandes consumidoras de recursos naturais, fontes de emissões poluentes e de produção de resíduos a transição para um modelo circular não pode ser feita sem mudanças estruturais no modelo urbano.

De facto, segundo as Nações Unidas[1] 54% da população mundial reside em áreas urbanas, quando em 1950 este valor era de 30%. Em 2050 pode chegar aos 66%.

Para adotarem estratégias para se tornarem mais circular os municípios necessitam de conhecer melhor o seu metabolismo.

O metabolismo urbano é uma “fotografia” dos fluxos de inputs, que uma cidade consome (matérias primas, água, nutrientes, energia) e de como estes se transformam em stock (edificado, infraestruturas) ou em outputs (produtos acabados, águas residuais, resíduos, poluição do ar).

O objetivo desta estratégia será reduzir a necessidade de inputs tornando a cidade mais autossuficiente ou mesmo excedentária, em termos de produção de energia e de consumo de matérias-primas e água, ao mesmo tempo que também reduz os outputs negativos.

No campo da energia a aposta passa por promover a eficiência energética dos edifícios, aumentar a produção local de energias renováveis e a adoção de planos de mobilidade que privilegiem o transporte público, a mobilidade sustentável e as ciclovias.

Os municípios devem promover a eficiência hídrica nos edifícios e nas atividades desenvolvidas assim como reutilizar as águas da chuva e as águas residuais.

Um município circular deve combater o desperdício alimentar e aumentar as áreas destinadas ao cultivo quer no seu interior quer na sua periferia. A criação de hortas urbanas contribui para um nível maior de autossuficiência e pode contribuir, em algumas situações, para a resolução de problemas de pobreza e de exclusão.

Para reduzir o consumo de matérias-primas existem vários instrumentos ao dispor dos municípios:

- Promover a prevenção da produção de resíduos;
- Criação de Centros de Reuso onde os munícipes podem deixar produtos que já não necessitam que são depois vendidos ou doados para causas sociais;
- Promover ateliers de reparação de produtos onde os munícipes podem aprender a fazer pequenas reparações em vez de descartar produtos ainda em boas condições;
- Instalar sistemas de recolha de resíduos sólidos urbanos porta a porta e sistemas “pay as you throw” (consumidores pagam uma taxa variável em função da quantidade de resíduos produzidos).

Os municípios podem também incentivar a sociedade da partilha agindo como facilitadores, promovendo a criação de infraestruturas, serviços e incentivos a ações de partilha de habitações, de espaço para escritórios ou estacionamento, de carros, de roupa, de equipamentos, ou da internet.

Para tornar mais circular a sociedade é necessário um grande envolvimento e mobilização da sociedade. Cabe aos municípios a tarefa de sensibilizar os cidadãos e os agentes económicos para esta transformação, envolvendo cidadãos, empresas, escolas, ONGs na elaboração e execução das estratégias de sustentabilidade.  

Uma aposta numa cidade mais circular aumenta a respetiva resiliência e competitividade para além de melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos ao reduzir a poluição. Contribuir para essa transformação é um desafio para os cidadãos e para os autarcas.

Muitos municípios já aceitaram este desafio Cascais pode ser considerado, pela qualidade e pelo número de diferentes iniciativas já em curso ou planeadas, como um exemplo a seguir.

 

[1] World Urbanization Prospects, 2014