O tema da Economia Verde começou desde 2014 a estar mais presente na agenda política nacional e internacional, apesar de não ser um tema que não é novo.
O economista Herman Daly, que trabalhou no Banco Mundial entre 1988 e 1994, escreveu vários livros sobre macroeconomia onde defendia um modelo económico que assumisse a escassez de recursos e o impacto ambiental decorrente das atividades económicas como variáveis essenciais aos modelos de desenvolvimento.
Apesar de este tema poder encontrar referências bibliográficas já nos anos 70 do século XX, apenas agora, em pleno século XXI, a agenda política dos EUA, da Europa e de Portugal começa a incorporar este assunto de forma mais sistemática.
Na realidade, e desde finais dos anos 80 do século XX, que a ênfase internacional foi dada ao nível do desenvolvimento sustentável. Desenvolveram‑se vários códigos voluntários, quer para empresas quer para Estados, e criaram‑se vários índices financeiros que avaliam o desempenho sustentável das empresas. Desenvolveram‑se também os chamados Fundos de Investimento Responsáveis, que investem apenas em empresas que têm um conjunto de preocupações ambientais ou sociais na sua gestão e/ou que contribuam para uma melhor utilização dos recursos naturais.
No entanto, e a meu ver, a implementação efetiva do conceito de desenvolvimento sustentável, quer nas políticas públicas quer nas empresas, falhou redondamente. Talvez porque a forma como foi definida não implicou a imposição imediata de um modelo matemático macroeconómico que o suportasse, ou porque de facto o ser humano não consegue gerir várias variáveis interligadas entre si e tomar decisões, ou simplesmente porque, afinal, o ser humano, de forma voluntária, não se preocupa assim tanto com as gerações futuras nem com o futuro, e, como tal, apenas com um enquadramento legal é possível promover essa «troca» entre o «hoje» e o «amanhã».
Assim sendo, e porque muitas tentativas foram realizadas a nível internacional para promover o desenvolvimento sustentável, quer pelas Nações Unidas, quer pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), quer pela União Europeia (UE), é minha convicção que o tema da Economia Verde surge como uma nova tentativa de pôr os temas ambientais e sociais no centro da agenda política e empresarial. É talvez uma tentativa mais racional e com maior probabilidade de sucesso, quando comparada com a tentativa de, em 1982, se tentar promover o desenvolvimento sustentável. Isto porque, ao falar‑se de Economia Verde, estamos desde já, aparentemente, a cingir o tema ao ambiente, e não estamos a incluir de forma imediata na equação a geração futura, pelo que se torna bem mais fácil compreender do que se trata.
Ao cingirmos o discurso ao tema da Economia Verde, também conseguimos rapidamente abordar os aspetos positivos na identificação de novos negócios, novas taxas de impostos, novas competências, novas tecnologias, entre outros. E esta linguagem já é mais familiar aos economistas, muito mais familiar do que propriamente a linguagem do desenvolvimento sustentável, em que as variáveis ambientais, sociais e económicas se interligavam para alcançar um certo desenvolvimento no presente, que não pusesse em causa a viabilidade do desenvolvimento do futuro. A linguagem do desenvolvimento sustentável é mais vaga e mais difícil de quantificar.
Desde 2014 que a expressão Economia Verde tem vindo a ganhar destaque nos meios de comunicação nacionais, mas ainda é um tema muito desconhecido dos vários agentes económicos.
Assim sendo, o livro “Introdução à Economia Verde” surge com o objetivo de explicar e ilustrar com exemplos o que significa Economia Verde, o que implica e o que irá originar no futuro. Pretende, essencialmente, dar a conhecer aos cidadãos e às empresas como podemos tirar partido desta visão de ecossistema económico, que acredita que os recursos naturais são fatores cruciais para o desenvolvimento económico e para a qualidade de vida dos cidadãos.
Compreender o potencial da Economia Verde constitui uma oportunidade única para conjugar ideias e conhecimentos vindos das várias áreas do saber, para desenvolver políticas públicas, para promover inovação e dinamizar novas atividades empresariais capazes de criar emprego e riqueza de forma mais equilibrada e justa, quer no tempo quer no espaço.
Sofia Santos é Secretária Geral do BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e autora do livro Introdução à Economia Verde
