À medida que a poeira assenta e a euforia desaparece, tende-se a olhar para as falhas dos acordos internacionais mais badalados. Este não deverá ser o caso do acordo conseguido em Paris, em meados de dezembro, durante a COP 21, apesar das inevitáveis críticas feitas ao documento.
Quase 200 países, com as mais variadas agendas, terem concluído duas décadas de disputas com a assinatura de um acordo global para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e evitar os mais nocivos efeitos das alterações climáticas, é um feito extraordinário. Mas na essência, este histórico e ambicioso acordo, que engloba a maioria das nações do mundo, sinaliza o fim dos combustíveis fosséis.
Além de concordar em tentar conter o aquecimento global abaixo dos 2 graus centígrados, os países comprometeram-se com uma nova meta de zero emissões a atingir entre 2050 e 2100 e uma revisão a cada período de cinco anos. É também de notar que os países mais ricos se comprometeram a angariar 100 mil milhões de dólares por ano até 2020 para ajudar o grupo dos países pobres a transformar as suas economias.
Mas ao invés de focalizar nas deficiências detectadas no acordo, devemos, portanto, celebrar o que ele é: um grande passo na luta contra as alterações climáticas.
Isso também não quer dizer que devemos parar por aí. Os que mais clamam pela luta contra as alterações climáticas devem começar a reconhecer o enorme potencial inexplorado da indústria da reciclagem como um parceiro verde. A reciclagem é uma indústria de baixo carbono, permitindo reduzir atualmente os gases com efeito de estufa num valor estimado de 700 milhões de toneladas por ano (um estudo conduzido pelo BIR confirma as reduções de CO2 em cerca de 572 milhões de toneladas para ferrosos, cobre, alumínio e papel). Em termos concretos, isto é mais do que produz toda a indústria da aviação num ano, o que significa que poderia compensar a poluição deste sector.
Algumas regiões, particularmente a Europa, estão a tomar a liderança, definindo ambiciosos objectivos de reciclagem e pondo em prática o enquadramento adequado para tornar a reciclagem uma parte essencial das nossas sociedades e economias. No entanto, noutras partes do mundo como África e Ásia, onde a reciclagem está menos enraizada na vida quotidiana, há muito trabalho a ser feito, particularmente em termos de educação e promoção do comércio livre e justo. Caso contrário, o perigo real estará no aumento das emissões de CO2 juntamente com o aumento da população destas áreas.
Esta bomba relógio é de tal ordem que não pode ser desarmada por apenas um continente ou dois: é necessário uma abordagem global. A economia circular é um modelo económico viável, mas não se deve limitar à Europa. Se analisarmos os benefícios significativos para o ambiente, a economia circular tem de ser adotada a uma escala global.
No Bureau of International Recycling (BIR) defendemos fortemente o reforço do Acordo de Paris através da formulação de regras vinculativas, que obrigaria os países que recebem ajuda a destinar uma parte desse financiamento para projetos de reciclagem.
A reciclagem é simplesmente uma parte demasiado vital na luta contra as alterações climáticas para não figurar na ordem do dia da próxima rodada de negociações internacionais - COP22 – que se inicia em Marrocos, em novembro de 2016.
Publicado no site http://www.euractiv.com/ a 8/04/2016.
Tradução: LD