Conhece a Quinta do Pisão desde os seus seis anos. Hoje com 59 anos, Jaime Martins, tratorista da quinta, recorda com carinho esses outros tempos: “Todas estas encostas estavam semeadas de trigo, vinha e oliveiras. Em criança não parava um minuto, não temia sequer os touros que andavam no pasto. Corria de vale em vale e aqui há espaço de sobra para isso. Hoje sou eu que de vez em quando, trago os meus netos para respirarem este ar puro e sentirem a mesma alegria que eu senti quando tinha a idade deles”.
Na altura, a quinta ainda não pertencia à Santa Casa da Misericórdia, funcionava como albergue de Mendicidade da Mitra, designado por Colónia de Trabalho da Quinta do Pisão. Desse tempo de menino, Jaime recorda as pessoas que ali trabalhavam e viviam, e que cantavam enquanto trabalhavam. Alguns não tinham família, outros padeciam de doenças mentais, mas aquela era a sua única casa. Durante o dia cavavam e cultivavam as terras, tratavam dos animais e limpavam o mato que utilizavam para fazer a cama das ovelhas e também como lenha para os fornos de cal que ali funcionavam.
Jaime Martins sempre preferiu trabalhar no campo a estudar. Por isso, começou a trabalhar como pastor. Depois foi trabalhar pela primeira vez para a Quinta do Pisão para lavrar a terra com tratores. Naquela época, todos os terrenos na quinta eram cavados à mão. O Pisão só adquiriu os primeiros tratores quando a Santa Casa passou a gerir o espaço.
Atualmente, a gestão da quinta está a cargo da Cascais Ambiente, e Jaime tem como principal tarefa tratar e alimentar os animais: ovelhas, cavalos, burros mirandeses e um cão, guardador do rebanho. Também faz a sementeira para alimentar os animais, explicando-nos que tudo o que se cultiva na quinta é para os alimentar. “Temos um ótimo pasto. Por ano, recolhemos mais de mil fardos. Aqui também há água em abundância”, explica.
Os afetos que criou com os animais levam-no, mesmo durante as férias, a ir à quinta para estar com eles. Um dos seus maiores desejos é ver mais animais na quinta: “gostava de ter aqui umas vaquinhas leiteiras. Era uma tradição que aqui havia antigamente, cheguei a fazer a ordenha. Vêm para aqui muitas crianças com as escolas e também com os pais. Acho que iam adorar”.
Jaime já está habituado a lidar com a criançada que visita a quinta. Também é ele que costuma fazer os percursos de passeios de burro para crianças. “Isto agora está tudo arranjadinho. Dá gosto andar aqui”, exclama Jaime com satisfação.