Transformar Cascais num território laboratorial. É essa a aposta da Câmara Municipal de Cascais que hoje juntou num mesmo projeto a iniciativa pública, privada e a investigação. Enquanto o mundo discute em Glasgow as políticas para combater as alterações climáticas, em Cascais dá-se mais um passo concreto produzindo Hidrogénio a partir de lixo, combustível para os nossos autocarros movidos a H2. IPIAC e Floating Particle assinaram o protocolo com o município para instalar, em breve, uma unidade Stella no concelho. Será uma prova de conceito, ou seja, em função do resultado, poderá ser alargado a mais unidades, e a outros locais.
Do tamanho de um contentor de 10 pés (cerca de três metros) este pequeno reator vai ser capaz de transformar 50 toneladas de lixo doméstico em cinco toneladas de hidrogénio por ano. O lixo, que de outra forma iria para aterro, transforma-se, assim em hidrogénio, ou seja, combustível para os autocarros a circular no concelho, mas que se pretende poder vir a alimentar também a frota de veículos de recolha de resíduos.
“Tudo o que virá a seguir, terá de ser diferente do que fizemos até hoje”, explicou Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, certo de que “só há uma forma de o fazer: criando verdadeiros territórios laboratoriais e esperar que as coisas funcionem”.
E neste momento de disrupção, Cascais dá um passo importante que, como sustenta Alberto Putin, da IPIAC, coloca o concelho “na vanguarda do mundo no que respeita à sustentabilidade. Nestes dias em que se anda a dizer muito “blá, blá, blá”, isto é realidade” afirmou, acrescentando: “É uma referência e o exemplo que queremos dar. O mundo está de parabéns porque, a partir de hoje, está um bocadinho melhor”.
Diogo Soares, da Floating Particle, um dos responsáveis pela investigação que levou à criação da unidade Stella acredita que desta forma vai ser possível “fomentar a justiça social e ambiental e a mobilidade urbana. O nosso conceito é pegar em resíduos diferenciados e transformá-los numa reação de gaseificação com tecnologia plasma”, explica. Sem a toxicidade gerada pela incineração, esta tecnologia, que sujeita os resíduos a cerca de 5.500 kelvin, transforma-os num efluente pura de hidrogénio, sem emissões. Aliás, os resíduos são “matéria-prima para outros fins”.
Na prática, este é um processo que provoca uma verdadeira revolução na gestão de resíduos e da mobilidade urbana que, como refere Luís Duarte, da Floating Particle, permite “resolver problemas ambientais da maneira mais sustentável”.
Estatística a ter em conta:
De acordo com dados de 2019, em Portugal, foram recolhidos 513 kg de lixo por habitante por ano (fonte PORDATA).
Com recurso ao Stella, seria possível percorrer 513 km por ano (a distância entre Cascais e Bragança, por exemplo), por habitante, por ano sem emissões poluentes. São muitos quilómetros sustentáveis e muitos metros cúbicos de aterro que ficariam por preencher.
CMC/FH