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Festa da Vindima 2022

Terça, 6 Setembro 2022
Munícipes de Cascais juntaram-se na vinha do Mosteiro de Santa Maria do Mar

A meio da tarde, à entrada do Mosteiro de Santa Maria do Mar, a fila engrossava. O apelo tinha sido lançado a todos os munícipes. Era preciso vindimar uma parte dos 2,7 hectares de vinha das castas que produzem o Carcavelos e os munícipes responderam: “Tivemos de fechar as inscrições porque responderam mais de uma centena de pessoas”, informava a técnica da Cascais Ambiente.

Não tardaria os vindimeiros, conduzidos por técnicos da Cascais Ambiente, cesto pendurado no braço, tesoura de poda na mão, eram distribuídos pelos corredores da vinha. E os primeiros cachos do Arinto começavam a cair nos cestos. O Arinto que, juntamente com o Galego Dourado, a Ratinho, e como castas autorizadas, a Rabo de Ovelha e a Seara Nova vão dar origem àquele vinho meio doce, de grande teor alcoólico (17 graus), rapidamente enchia os cestos.

“Desafiada por um grupo de amigos decidi vir vindimar”, dizia Inês, uma das vindimeiras, “e é um prazer o contacto com a natureza”, comprovava-o num sorriso. Afastando as parras, sem tirar os olhos no cacho e tesoura filada, Inês ia limpando cacho a cacho sem deixar para trás rasto. As restantes filas de vinha iam sendo limpas de uvas e os cestos enchiam-se. Pelo meio das fileiras de vinha, viam-se rostos recortados nos contornos das parras. Eram famílias inteiras, mãe, pai e filhos, que confraternizavam ali com uma nova realidade rural, encaixada na paisagem urbana de Carcavelos e com o mar no horizonte.

Esta vinha, trabalhada pelos técnicos da Cascais Ambiente segue o conceito de “agricultura biológica e regenerativa”, refere Joana Balsemão, vereadora da Câmara Municipal de Cascais. As vinhas do Mosteiro de Santa Maria do Mar fazem parte do projeto "Terras de Cascais" cujo modo de produção é biológico, usa práticas agrícolas sustentáveis, que favorecem o próprio ecossistema agrícola, melhora a fertilidade dos solos e a biodiversidade, sem recorrer a pesticidas, adubos químicos.

Mas também é regenerativa, na medida em que, por um lado, recupera a fertilidade daquele solo usando processos naturais, promovendo assim a fixação de água e nutrientes, respeitando a biodiversidade, sempre numa preocupação de envolvimento da comunidade local, com o propósito da regeneração de um espaço rural integrado no espaço urbanizado no início do século passado. “Cascais é conhecido por ser uma terra de Reis e Pescadores”, disse Carlos Carreiras, presidente da autarquia, acrescentando que, “na verdade começou por ser rural, bem como a sua população”, a designada população saloia, que “produzia e fornecia alimentos à cidade de Lisboa”.

Mas é também a regeneração de uma vinha e um vinho, com caraterísticas muito especiais e muito apreciadas lá fora, sobretudo com grande consumo nos finais do Século XVIII em Inglaterra e na América do Norte, como refere o historiador de Cascais, Mário Lisboa, no seu livro “O Vinho de Carcavelos”.

Este é o segundo ano de produção do vinho naquela vinha do Mosteiro de Santa Maria do Mar. Mosteiro que, depois de sofrer obras de conservação, e restauro e até ampliação, vai transformar-se numa residência de estudantes, com uma capacidade de 40 quartos e espaço para adega e prova de vinhos.

E, como até ao lavar dos cestos é vindima, o fim do dia terminaria com uma festa, agora animada por DJ, substituindo a velha concertina que animava bailaricos de outrora, onde não faltava o que beber e comer e até, pasme-se, uma prova de Carcavelos. Não este que só poderá ser degustado daqui a uns anos, depois de passar pela barrica e por um prolongado estágio.