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Cascais no Dia Mundial da Alimentação

Domingo, 16 Outubro 2022
No caminho da autossuficiência alimentar local ou a voltar às raízes?

A lógica da disseminação das Hortas Comunitárias, das Vinhas Comunitárias, da recuperação do Vinho Carcavelos e agora da plantação do Trigo Barbela deixam-nos a expectativa da autossuficiência alimentar local, mas também da opção pela agricultura regenerativa, como forma de recuperar e devolver espaços agrícolas ao concelho, envolvendo as gentes de Cascais, mas também salvaguardando variedades locais perdidas ou a caminho disso, num processo de recuperação da paisagem agrícola ou, num percurso de regresso às raízes.
E não é preciso ir às origens mais remotas da ocupação do território, como nos recordam explorações arqueológicas de Vila Romana de Freiria ou idênticos apontamentos nos Casais Velhos para se perceber que antes da vocação urbana, de reis e veraneio, houve a agrícola e a piscatória também, como testemunham as memórias paroquiais de meados do século XVIII.

Trigo Barbela
No regresso às raízes inscreve-se a recuperação, nos solos calco-xistosos do Pisão, de um género de trigo, mole, mais nutritivo, mais sustentável, já que pode ser reimplantado durante 5/6 anos consecutivos, porque não provoca a saturação dos solos nem usa fertilizantes ou herbicidas, dada a configuração da sua folhagem que evita o desenvolvimento de plantas infestantes. 
Este cereal não precisa de ser regado, já que as suas raízes verticais vão fundo buscar água e nutrientes. Não esgotam o solo nem obrigam a pousios. Chama-se Trigo Barbela ou Escravo, próprio para solos pobres, introduzido na Península no século VIII, cultivado para economias familiares, de subsistência. O ciclo começa na plantação, sem necessidade de manutenção, nem antes nem depois da colheita, porque o restolho é um excelente alimento para os animais. 
Uma vez colhido e moído, o trigo dá origem a um pão biológico com baixo teor de glúten e, fruto de uma fermentação mais lenta, pode ser consumido num período mais prolongado, à volta de uma semana. 

O Renascer do Carcavelos
É neste mesmo regresso às raízes que Cascais faz renascer as Vinhas de Carcavelos. Exemplo disso são os 2,7 hectares de vinha no Mosteiro de Santa Maria do Mar em Carcavelos, aonde, em 2021, se granjearam 3 toneladas de Carcavelos (o equivalente a 3 mil garrafas deste vinho generoso, em 2022, 8 mil garrafas e num crescendo atingirá o seu limite que é o de 27 mil garrafas.
É uma vinha trabalhada pelos técnicos da Cascais Ambiente que segue o conceito de “agricultura biológica e regenerativa”, cujo modo de produção é biológico, usa práticas agrícolas sustentáveis, que favorecem o próprio ecossistema agrícola, melhora a fertilidade dos solos e a biodiversidade, sem recorrer a pesticidas, adubos químicos. Recupera a fertilidade dos solos usando processos naturais, promovendo assim a fixação de água e nutrientes, respeitando a biodiversidade, sempre numa preocupação de envolvimento da comunidade local, com o propósito da regeneração de um espaço rural integrado no espaço urbanizado no início do século passado. É a regeneração de uma vinha e de um vinho, com caraterísticas muito especiais e muito apreciadas.